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Recuperação de estruturas é um negócio sério! |
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Um leigo nem sempre sabe a gravidade de uma fissura num pilar, viga ou laje; ou de uma mancha esbranquiçada ou avermelhada na superfície desses elementos; ou de uma placa de concreto que se desprende deles, expondo barras de aço. Alguns ficam alarmados e chamam um especialista para aconselhá-los, outros deixam para lá e fazem uma gambiarra, escondendo o problema, em vez de resolvê-lo. São os adeptos do ditado: “O que os olhos não vêem…”.
Sobre isso, um colega, especialista em recuperação de estruturas, confessou seu desconsolo com o que tem visto “na praça”: A remoção do concreto deteriorado é feita com ferramentas inadequadas; a eliminação da oxidação do aço é efetuada com “marteladinhas” e tratadas com pinturas anti-corrosivas. A recomposição das seções de concreto acontece com argamassas, industrializadas ou não, iguais às usadas em revestimento de paredes ou assentamento de azulejos. Tudo muito “simples e baratinho”, mas tecnicamente incorreto!
Meu colega questionava se havia “faltado naquela aula” ou entendido tudo errado, pois aprendera que após a remoção das partes corroídas, com ou sem substituição ou reforço da armadura, esta deveria ser limpa e tratada com produtos adequados, geralmente pinturas a base de zinco, para protegê-la; que esse tipo de tratamento deveria assegurar aderência entre o aço e o concreto, pois é assim que uma estrutura de concreto armado deve trabalhar; que a recomposição da estrutura deveria ser feita com concreto, graute ou argamassas de alta resistência e que esses materiais deveriam garantir, também, baixa permeabilidade, para proteger o aço da agressividade do meio ambiente.
Inconformado, ele chegou a entrar em contato com fabricantes dos produtos desse “kit mágico”, panacéia leiga, para perguntar se eles eram indicados para recuperação de estruturas. Todos afirmaram que essa utilização era indevida e desaconselhável, pois as argamassas colantes utilizadas para assentar revestimentos cerâmicos não têm resistência estrutural.
Meu colega já sabia disso, mas quis confirmar esses dados, pois algum estudo recente poderia respaldar essas práticas. Mas, se os próprios fabricantes descartam o uso desses produtos e “técnicas” para a recuperação de estruturas, qual a justificativa de quem os indica? O problema é que, infelizmente, esses “usos e costumes” são corriqueiros, feitos com as desculpas de sempre: “o custo é menor” ou “o problema não é tão sério”. Para esses “experts” usar materiais e procedimentos adequados é “exagero” ou “desperdício”.
Um leigo pensar assim é compreensível, mas não é o caso quando essa orientação vem com a certeza de profissionais que “entendem de tudo” e para os quais tudo sempre é “muito simples”. É bom lembrar que tanta “simplicidade” tende a dispensar aconselhamentos futuros, com o nefasto entendimento de que aquela “solução” serve qualquer situação, tornando qualquer leigo um “especialista”.
Ao meu colega eu só posso recomendar que persista em sua postura profissional técnica e ética. Já para os proprietários de imóveis, síndicos de edifícios e afins, a sugestão é outra: Consultem no mínimo três especialistas! Peçam formalmente as especificações. Além disso, em tempos de Internet, verifiquem se os produtos e técnicas sugeridos são “do ramo”, se existem equivalentes. Façam cotações de preços. Além disso, ao contratarem, exijam cópia da ART - Anotação de Responsabilidade Técnica do profissional para o serviço, o que dará as garantias previstas na lei. Senão, só uma lei será respeitada: a da gravidade! E essa não perdoa… Os olhos vêem!
(*) Adilson Luiz Gonçalves escritor, engenheiro, professor universitário - adilson@unisantos.br |
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